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Surfando a segunda onda

O GRANDE fator que diferencia o grau de desenvolvimento de uma sociedade é a sua capacidade de organização: quanto mais organizada ela for, tanto mais desenvolvida será, na medida em que os diferentes setores se fazem representar, criando transparência em todas as áreas. Articulados, os segmentos exigem mais, e a democracia fica muito melhor.

Assim como o sindicalismo e o associativismo representam o braço político da organização social, o cooperativismo é seu braço econômico. Portanto, quanto mais forte e eficiente for o movimento cooperativista de um país, tanto maior será a organização econômica de seus cidadãos.


Cooperativismo é uma doutrina baseada em sete princípios adotados universalmente e que caracterizam e determinam o comportamento das cooperativas. Essas são, assim, o instrumento da doutrina e se constituem em empresas inseridas no mercado, com a diferença, em relação às empresas convencionais, de não buscarem lucro. As cooperativas prestam serviços de interesse dos seus associados, tendo em vista aumentar a renda e o lucro deles. A cooperativa é um meio, e não um fim em si mesma. E, com isso, serve à doutrina, cujo conceito fundamental é o de corrigir o social através do econômico.

Surgidas em meados do século 19, como uma resposta à Revolução Industrial que, na Europa, produziu desemprego, exclusão social e concentração de renda, as cooperativas se esparramaram por todos os continentes, ocupando os mais diversos ramos de atividade econômica e social.

Existem no mundo cerca de 800 milhões de pessoas filiadas a cooperativas. Se cada cooperado tiver três dependentes, 40% da população da Terra está ligada a cooperativas.

Talvez nenhuma doutrina tenha tantos seguidores unidos pelos mesmos princípios e valores atuando em cooperativas agrícolas, de produção industrial, de crédito urbano e rural, de consumo, de habitação, de energia, de comunicação, de saúde (como as Unimeds), de trabalho, de serviços, de transportes etc.

O sétimo princípio -"a preocupação com a comunidade"- faz com que a cooperativa tenha uma atuação para além dos interesses dos seus associados, uma vez que ela se estende para toda a comunidade onde esteja inserida, sob o conceito de que não pode haver bem-estar para os cooperados se não houver bem-estar de todas as pessoas de sua área de ação.

Por isso, as cooperativas funcionam como ponte entre o mercado e a felicidade das pessoas comuns, mesmo as não-cooperadas.

Essa visão é relativamente recente. Até a queda do Muro de Berlim, o cooperativismo era tido como a terceira via para o desenvolvimento, entre o capitalismo e o sociativismo. De lá para cá, com a nova onda de exclusão social e concentração de riqueza determinada pela globalização da economia, o movimento cooperativista ganhou novo e poderoso impulso.

Governos democráticos de todos os continentes, compreendendo que as cooperativas são aliadas importantes para melhor organizar a sociedade, modernizaram legislações de apoio ao movimento, buscando nele um parceiro para suas ações na distribuição de renda, no emprego decente, na defesa do ambiente, na educação e saúde para todos, na segurança alimentar e energética e, em última instância, na própria justiça social.
E o cooperativismo mundial vem surfando com vigor esta segunda onda da sua história.

Roberto Rodrigues

Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior de Agronegócio da FIESP e professor de Economia Rural da UNESP/Jaboticabal

 

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