“Quando escrito em chinês a palavra crise
compõe-se de dois caracteres:
um representa perigo e o outro
representa oportunidade.”
(John Kennedy)
Nas instituições financeiras cooperativas, historicamente, os intervalos de crise têm-se transformado em oportunidades de crescimento e de ganho de mercado.
Uma das áreas em que o avanço se mostra mais relevante, quando comparado ao mercado bancário tradicional, é a do crédito – componente essencial para a dinâmica da economia. As cooperativas conseguem preservar seu compromisso de assistir os cooperados em suas demandas, ao manterem estáveis as carteiras de empréstimos e os financiamentos. Isso é possível pelo fato de conhecerem melhor o seu público, em razão da confiança gerada pela especialidade e pela proximidade, bem como por operarem, fundamentalmente, com arranjos locais e categorias profissionais impactados em menor grau pela contração da atividade econômica.
Para se ter uma ideia, no triênio 2008-2011, intervalo central da crise do “subprime”, o avanço da carteira de crédito das cooperativas no Brasil foi da ordem de 73,16%, para uma evolução de apenas 41,05% no sistema bancário tradicional – não computados os bancos oficiais, pois a sua atuação nesse particular foi totalmente atípica, como é de conhecimento público.
Já em 2014, ano inicial de um novo período de forte retração da economia brasileira, o incremento do crédito no setor cooperativo foi de 17,65%, enquanto no sistema financeiro avançou apenas 11,69%. Em 2015, com os problemas econômicos se agravando, o quadro manteve-se: as cooperativas expandiram as suas operações em 12%, contra 7,97% do sistema bancário (incluídos os oficiais).
Somando todo o interstício de 2008 a 2015, observa-se um crescimento médio anual de 19,62% na carteira de empréstimos e financiamentos das cooperativas, contra 15,6% na dos bancos.
Quanto a 2016 – outro exercício com acentuada queda do Produto Interno Bruto (PIB) -, a julgar pelo desempenho das carteiras no 1º semestre, o distanciamento em favor das cooperativas terá uma ordem de grandeza significativamente mais relevante.
Mas o bom desempenho das cooperativas em períodos adversos não se limita à carteira de crédito. Com relação à evolução dos ativos, depósitos e do patrimônio líquido, constata-se um gap ainda mais expressivo. Entre 2008 e 2011, com efeito, observam-se as seguintes taxas de expansão comparativas: depósitos – cooperativas 100,86%, contra % 31,96 dos bancos convencionais; ativos – cooperativas 94,26%, contra 36,94% dos bancos, e patrimônio líquido – cooperativas 69,48%, contra 42,59% dos bancos.
Situações de escassez, por outro lado, pedem especial parcimônia com os gastos, quadro que recomenda a revisitação de estruturas, processos, contratos de prestação de serviço e outras variáveis no campo das despesas administrativo-operacionais. Um aproveitamento mais efetivo dos componentes organizacionais das entidades de segundo e terceiros níveis do respectivo sistema cooperativo é, sem dúvida, medida a ser considerada para a diluição de custos e investimentos locais. Aliás, calha bem, aqui, a lição de Benjamin Franklin: “Cuidado com as despesas miúdas: pequenos vazamentos podem levar um grande navio a pique”.
Em conclusão, à luz das evidências históricas, uma vez que se mantenha fiel aos seus valores e princípios, e explore adequadamente as oportunidades decorrentes de seu modelo de negócio, o cooperativismo financeiro reúne condições excepcionais para fazer a travessia e ainda prosperar em tempos hostis.