Corrupção na Coaf preocupa cooperativas
02/03/2016
O cooperativismo raramente aparece na chamada grande imprensa, que geralmente tem seu radar voltado para os rotineiros e gigantescos escândalos econômicos e políticos. As coisas que dão certo – ou seja, as notícias boas – perdem espaço para o que dá errado. E foi justamente nesse contexto que o cooperativismo recentemente foi parar nas páginas dos jornais e nas telas da televisão. No dia 19 de janeiro, a Polícia Civil desencadeou na cidade de Bebedouro, a 400 quilômetros da capital paulista, a chamada Operação Alba Branca. O objetivo principal da ação era a prisão de seis dirigentes – além de 24 mandados de busca e apreensão – da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf). Eles foram acusados de fraudar licitações de fornecimento de merenda escolar, cobrando propina de funcionários de pelos menos 16 prefeituras. O número de cidades, porém, pode passar de 150, em um caso de vários milhões de reais.
O escândalo vem desencadeando um temor entre as cooperativas de que a opinião pública generalize uma imagem falsa do cooperativismo. “Uma ação dessas não prejudica somente as cooperativas honestas, mas também a sociedade, no caso as escolas públicas que recebem os alimentos para a merenda escolar”, lamenta Elvio Aparecido da Motta, secretário-geral da Federação da Agricultura Familiar do Estado de São Paulo. “Nós alertamos sobre a Coaf e não podemos ser prejudicados por causa dela. Tem que punir os responsáveis e valorizar as ações das cooperativas que trabalham honestamente”, acrescenta. É da mesma opinião Sebastião Aranha, presidente da Coapri (Cooperativa dos Assentados de Reforma Agrária e Pequenos Produtores da Região de Itapeva). “Essa questão de corrupção na merenda escolar envolvendo uma cooperativa acaba prejudicando aquelas que são sérias, pois as pessoas tendem a generalizar que todas as cooperativas são iguais”, declara.
Como se não bastasse, há também quem se aproveite da situação para tirar proveito próprio, mesmo que em prejuízo de quem trabalha nos limites da lei. “O registro e a manutenção da regularidade na Ocesp são filtros que nos permitem separar o joio do trigo e, assim, zelar pelos princípios, valores e pela boa imagem do cooperativismo”, afirma em nota o presidente da entidade, Edivaldo Del Grande. Segundo a Ocesp (Organização das Cooperativas do Estado de São Paul o), a Coaf não era filiada à entidade e, se fosse, a suposta corrupção não teria acontecido. “Antes de contratar uma cooperativa, o órgão público ou mesmo a empresa privada deveria verificar se o empreendimento tem registro na Ocesp”, acrescentou Del Grande.
As declarações do comandante da Ocesp provocaram indignação entre as cooperativas. “A fraude apontada pela investigação não se deu pelo fato de a empresa ser uma cooperativa, mas sim porque pessoas que atuavam em sua gestão optaram por seguir por esse caminho”, reagiu em nota de repúdio o Sincotrasp (Sindicato das Cooperativas de Trabalho no Estado de São Paulo). “Tal fato poderia ocorrer em qualquer que fosse o tipo de empresa.” A presidente da Fetrabras (Federação Nacional dos Trabalhadores Cooperados, Sandra Campos, foi mais enfática. “É palhaçada”, disse em nota. “Das quatro cooperativas citadas na Operação Alba Branca, três são filiadas/registradas à essa ONG”, diz ela. “Inclusive fizeram festas juntos em cidades do interior, conforme informações da internet”, acrescenta.
Os trabalhadores cooperados, no final das contas, são os maiores prejudicados. Segundo o Ministério Público, a corrupção quebrou a Coaf, que nasceu de um assentamento. E esses trabalhadores foram enganados. Segundo reportagem do portal G1, o agricultor José Aparecido Félix, conhecido como Seu Zezinho, tem uma plantação de legumes lá. Uma nota fiscal diz que ele vendeu R$ 4 mil em laranjas para a cooperativa. “Eu nunca plantei laranja, né? Aqui no meu sítio você pode ver. Nunca teve laranja”, disse Zezinho ao G1. “Como que uma nota dessa veio como laranja? Alguma coisa tem de errado aí, né?”, acrescentou. “Acho que nós somos os laranjas, né?” E essa foi apenas uma das várias notas falsas que o Ministério Público descobriu, mostrando que o problema não é da cooperativa, mas de algumas pessoas. “Este é o momento do poder público separar o joio do trigo, pois não é por causa de uma cooperativa que todas devem ser prejudicadas”, afirma Elvio, da FAF.
Carlos Dias - Redação EasyCOOP