Há uma preocupação rondando o universo rural catarinense. A estrutura fundiária de Santa Catarina é constituída, preponderantemente, por pequenas propriedades que obtêm sua viabilidade econômica porque atingem excelentes níveis de produtividade em várias culturas. Esse perfil – pequenos estabelecimentos dedicados à policultura – parece ser a chave do sucesso do minifúndio.
É evidente que garantir a sucessão dessas unidades rurais é uma necessidade para perenizar a estrutura de produção que notabilizou Santa Catarina no Brasil e no mundo, razão pela qual esse assunto merece ser tratado com mais profundidade. Várias lideranças do agro, quando abordam essa questão, emitem análises e informações superficiais e destoantes. Alguns avaliam que apenas 5% dos estabelecimentos rurais estão com o processo sucessório (de pais para filhos) assegurado. Outros afirmam que o cenário é menos dramático. Enfim, há uma bruma de desinformação sobre essa questão, geralmente tratada no âmbito das opiniões e das idiossincrasias. A verdade é que se torna imprescindível que as 375 mil propriedades rurais inscritas no Cadastro Ambiental Rural (CAR) tenham uma sucessão exitosa.
Nesse oceano de preocupações surge uma luz de esperança. Os maciços investimentos na qualificação e requalificação dos produtores rurais que o Sistema S (Senar, Sebrae, Sescoop etc.), as cooperativas, as agroindústrias e as próprias universidades estão fazendo mudaram o perfil do campo, atraindo e retendo profissionais de variada formação. Exemplo altissonante é a ATeG (assistência técnica e gerencial), iniciativa de alto nível criada na esfera do Sistema CNA/Faesc/Senar que vem promovendo uma revolução de práticas e conceitos, tornando mais produtivas e rentáveis as empresas rurais, portanto, aumentando a riqueza no campo.
A sucessão nas empresas rurais – como devem, realmente, serem chamadas essas unidades de negócios – merece ser objeto de uma pesquisa científica para avaliação e compreensão desse fenômeno tão sensível para o futuro da economia barriga-verde.
Paralelamente a sucessão, outra preocupação é o esvaziamento do campo. O último Censo Demográfico (2022) revelou que a população rural de Santa Catarina está reduzida a 886,1 mil habitantes, ou seja, apenas 11,6% da população total do estado. A migração do campo para a cidade é um fenômeno que ocorre em todo o Planeta, mas vem se acelerando em território catarinense. Há 30 anos atrás a população rural representava 25%.
Análise demográfica das regiões catarinenses revela que somente os micropolos tiveram aumento populacional, enquanto a totalidade dos pequenos municípios registrou redução. E a marcha para a faixa litorânea prossegue. A litoralização da ocupação territorial catarinense já foi estudada. Essa concentração no litoral é um processo deletério, porque esvazia extensas regiões do hinterland causando problemas de escassez de recursos humanos para as empresas do campo e da cidade. De outro lado, o inchaço das cidades localizadas na orla marítima se traduz em problemas de toda ordem.
Países evoluídos resolveram essa situação com a chamada agricultura de tempo parcial, com as pessoas trabalhando no campo e morando nas cidades. Outro caminho promissor é o voto distrital misto, um sistema que garante a representação igualitária de todas as microrregiões do território. Duas metodologias a estudar – e aplicar.