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Empresas Comerciais Cooperativas: Um Caminho Superior à Simples Adoção do Modelo Capitalista

Em um mundo cada vez mais marcado por desigualdades, instabilidade econômica e crises ambientais, torna-se urgente repensar o modelo de empresa que adotamos. As cooperativas, por sua história e princípios solidários, representam uma alternativa ética e sustentável ao modelo capitalista convencional. No entanto, muitas vezes, na tentativa de se manter competitivas, acabam reproduzindo estruturas empresariais capitalistas, perdendo sua identidade original. Isso levanta uma questão central: por que não criar empresas comerciais cooperativas, baseadas integralmente nos princípios do cooperativismo?

1. A armadilha da imitação do modelo capitalista

Muitas cooperativas, diante das exigências do mercado, adotam práticas empresariais típicas das empresas capitalistas, como hierarquias rígidas, foco exclusivo na rentabilidade e distanciamento entre a gestão e os cooperados. Ao fazer isso, correm o risco de se descaracterizar, tornando-se empresas comerciais disfarçadas de cooperativas. Essa adaptação pode até trazer ganhos de curto prazo, mas compromete o longo prazo, pois rompe com o espírito de solidariedade e democracia que constitui a base do cooperativismo.

2. A proposta: criar empresas comerciais cooperativas

A solução não está em abandonar o mercado, mas em reconstruí-lo a partir de novos valores. As cooperativas podem e devem criar suas próprias empresas comerciais cooperativas, com estruturas modernas, eficientes e tecnológicas — porém baseadas nos princípios da intercooperação, da participação democrática, da equidade e da responsabilidade social.

Essas empresas seriam verdadeiras expressões do cooperativismo aplicado à atividade comercial: com gestão democrática, retorno dos resultados aos cooperados, compromisso com a comunidade e uma visão de longo prazo. Seriam empresas comerciais não movidas pela ganância, mas pelo bem comum.

3. Princípios cooperativistas como guia da nova empresa

Uma empresa comercial cooperativa não abriria mão da competitividade, da inovação ou da excelência. Mas colocaria isso a serviço dos cooperados e da sociedade. Seria orientada pelos sete princípios do cooperativismo:

  • Adesão livre e voluntária
  • Gestão democrática
  • Participação econômica dos membros
  • Autonomia e independência
  • Educação, formação e informação
  • Intercooperação
  • Compromisso com a comunidade

Esses princípios fariam parte não apenas do discurso institucional, mas da prática cotidiana da empresa: na forma como contrata, vende, distribui resultados, forma lideranças e se posiciona diante dos desafios globais.

4. A intercooperação como base de um novo modelo de mercado

Ao criar empresas comerciais cooperativas, as cooperativas poderiam estabelecer redes de intercooperação, substituindo a lógica da competição predatória por uma lógica de colaboração produtiva. Em vez de disputar mercado entre si, uniriam forças para conquistar espaço, oferecer melhores serviços e fortalecer as comunidades em que atuam.

5. Uma proposta transformadora

Essa proposta não é utópica. Já existem experiências bem-sucedidas de cooperativas que mantêm empresas comerciais com base em seus valores, como redes de supermercados, sistemas de saúde, escolas, agroindústrias e plataformas digitais. O que falta é uma articulação mais ampla e consciente dessa estratégia, como política deliberada do movimento cooperativista.

Conclusão

As cooperativas não precisam adotar o modelo empresarial capitalista. Podem — e devem — criar um novo tipo de empresa: a empresa comercial cooperativa. Moderna, eficaz e, acima de tudo, fiel aos princípios que sustentam sua razão de existir. Essa seria uma revolução silenciosa, mas profundamente transformadora: a de uma economia feita por pessoas, para pessoas — e não para o capital.abs

Rosalvi Maria Teofilo Monteagudo

Contista, pesquisadora, professora, bibliotecária, assistente agropecuária e articulista na internet. Mestre em cooperativismo pelo CEDOPE/UNISINOS, em São Leopoldo – RS. Foi editora responsável do boletim informativo do ICA/SAA, São Paulo, no qual criou o espaço “Repensando o Cooperativismo”. Organiza cursos, conferências, estandes em feiras e já foi voluntária na Pastoral da Criança.

 

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