O cooperativismo, em sua essência, nasceu como um movimento de resistência. Resistência à exploração, à concentração de riqueza, à marginalização dos trabalhadores. Mas com o passar das décadas, o que era projeto de emancipação foi sendo acalmado, sedado, absorvido. O Estado — mesmo quando democrático — manipulou a história, reescreveu a percepção coletiva, moldou o discurso da “autonomia” em benefício da própria dominação.
Hoje, o que se vê é um cooperativismo tutelado. Vinculado à burocracia estatal, pendente de favores fiscais, limitado por normas que muitas vezes contradizem os próprios princípios cooperativistas. A promessa de independência virou retórica protocolar. A intercooperação, um artigo decorativo. A autogestão, uma ilusão permitida apenas até onde não incomoda o sistema dominante.
Esse modelo está esgotado. E, com ele, esgota-se também o fôlego do movimento cooperativo.
Se o cooperativismo deseja sobreviver — e mais do que isso, deseja viver como alternativa histórica real — ele precisa retomar seu caminho original: o da independência econômica e política. E isso não será dado pelo Estado. Será conquistado por uma nova forma de organização: uma economia cooperativa integrada, interdependente, construída de baixo para cima, unida não por fronteiras geográficas, mas por princípios e propósitos comuns.
Para isso, é preciso um novo mercado. Um mercado cooperativo, autônomo, interconectado e autorregulado — um mercado econômico cooperativo em ação eleutrônica.
A eleutronia — conceito ainda pouco difundido, mas urgente — representa a base tecnológica para essa transformação. Trata-se da construção de uma plataforma digital colaborativa capaz de realizar, na prática, o princípio da intercooperação: conectando cooperativas, organizando demandas e ofertas, trocando excedentes, criando crédito próprio, permitindo gestão compartilhada, conhecimento livre e decisões coletivas em tempo real.
Esse mercado eleutrônico não apenas viabiliza a soberania econômica das cooperativas — ele institui uma nova lógica: a da democracia da cooperação. Nela, os cooperadores são sujeitos e não apenas membros. A plataforma funciona como um organismo vivo, que aprende com os dados, devolve inteligência às bases e propõe soluções com base nas necessidades reais de seus integrantes.
Assim, o cooperativismo deixa de ser satélite da economia capitalista e se torna constelação própria.
Sai da periferia do Estado para construir seu próprio centro.
Rompe com a dependência e funda uma nova independência: tecnológica, econômica e política