A autogestão é frequentemente entendida como uma forma democrática de administrar coletivamente uma organização, onde os trabalhadores participam diretamente das decisões. No entanto, para que essa prática seja realmente eficaz e transformadora, ela não pode se limitar a uma simples repartição de tarefas ou lucros. A autogestão precisa estar ancorada em um modelo de empresa que incorpore, de maneira concreta e estruturada, as regras dos princípios cooperativistas.
Os sete princípios do cooperativismo — adesão voluntária e livre; gestão democrática; participação econômica dos membros; autonomia e independência; educação, formação e informação; cooperação entre cooperativas; e interesse pela comunidade — oferecem uma base sólida para a construção de um modelo organizacional autogerido com responsabilidade social, econômica e ambiental.
Sem essas diretrizes, a autogestão corre o risco de se tornar apenas uma forma descentralizada de gestão empresarial, muitas vezes absorvida pela lógica capitalista. Por isso, é fundamental que o modelo de empresa autogestionária vá além da simples ausência de patrões e inclua regras claras de solidariedade, igualdade, transparência, participação consciente e compromisso com o bem comum.
Esse modelo de empresa precisa:
1. Ser horizontal, com mecanismos de tomada de decisão coletiva e alternância de funções;
2. Valorizar o ser humano acima do capital, revertendo os resultados para o coletivo e para a sustentabilidade da organização;
3. Ter vínculo com outras cooperativas, por meio da intercooperação, formando redes de apoio mútuo;
4. Investir constantemente na formação dos seus membros, criando uma cultura organizacional baseada no aprendizado e no crescimento coletivo;
5. Atuar com responsabilidade social, promovendo o desenvolvimento da comunidade onde está inserida.
A autogestão, portanto, não é apenas uma técnica administrativa, mas um projeto político e pedagógico. E esse projeto só se sustenta se tiver como base os princípios cooperativistas, que fornecem a ética e a lógica necessárias para um novo paradigma de empresa: uma empresa democrática, inclusiva, solidária e transformadora.
Em um mundo marcado pela precarização do trabalho e pela concentração de riqueza, adotar um modelo de autogestão inspirado nos princípios do cooperativismo é mais do que necessário — é um passo estratégico e ético para reimaginar a economia e construir um futuro verdadeiramente humano.