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O Capital Deve Ser Meio, Não Fim: Por um Sistema Antagônico à Ditadura do Comércio

Vivemos, há séculos, sob o império do capital como fim. Em nome dele, destroem-se comunidades, exploram-se corpos e desfiguram-se valores. O comércio, em sua forma atual, transformou-se numa guerra — uma guerra de todos contra todos, onde o lucro é rei e o ser humano, peça descartável. Mas há outro caminho. Um caminho que coloca o capital como meio e não como objetivo final da vida econômica. Um caminho cooperativo, justo e solidário.

A Ditadura do Comércio

A chamada "guerra do comércio" é, na verdade, a face visível da lógica capitalista levada ao extremo: competir sempre, vencer a qualquer custo, explorar até o limite. Nesse modelo, o capital se torna fim em si mesmo, e os valores humanos — como solidariedade, dignidade, cooperação — são tratados como obstáculos à eficiência. O que importa é vender, acumular, expandir, dominar.

Esse sistema gera uma falsa liberdade. O consumidor pensa que escolhe, mas está preso a um mercado que impõe necessidades, manipula desejos e esvazia o sentido da convivência social. É uma ditadura silenciosa, sustentada por propagandas, algoritmos, dívidas e desigualdades históricas.

O Capital como Meio: A Proposta Cooperativa

No cooperativismo, o capital não comanda — ele serve. Ele é organizado, acumulado e utilizado com um propósito claro: atender às necessidades humanas e promover o bem-estar coletivo. Em vez de ser um fim absoluto, o capital se transforma em um instrumento de construção social. Assim, o capital torna-se subordinado ao trabalho, à convivência, à vida.

Cooperativas não existem para enriquecer investidores. Elas existem para garantir trabalho digno, produção responsável, serviços acessíveis e uma distribuição mais justa da riqueza. E fazem isso com base em princípios democráticos: um cooperado, um voto; participação aberta e voluntária; educação cooperativa e intercooperação.

Ser Antagônico à Guerra

Defender que o capital deve ser meio é, portanto, um ato de resistência. É romper com a lógica da guerra comercial. É enfrentar a ditadura silenciosa que transforma tudo — inclusive o ser humano — em mercadoria.

Esse antagonismo não se faz com armas nem com discursos vazios, mas com prática cotidiana, com redes de solidariedade, com empreendimentos cooperativos e associativos que mostrem, na vida real, que é possível produzir, consumir e viver de outro modo.

Reafirmar no Brasil

No Brasil, onde a desigualdade é estrutural e a exclusão persiste, essa visão precisa ser reafirmada. O cooperativismo não pode mais ser visto apenas como alternativa — ele é urgência histórica. Um modelo que organiza o social e o econômico de forma integrada, capaz de enfrentar o desemprego, a pobreza e o individualismo predador.

Reafirmar essa visão é tarefa de todos os que creem que a economia deve servir à vida, e não o contrário. Reafirmar essa visão é um ato de amor ao povo, de coragem política e de lucidez histórica.

Conclusão

Que o capital sirva — e não mande. Que o comércio una — e não destrua. Que sejamos, como cooperativistas, a semente de um mundo novo onde o lucro não fale mais alto que a dignidade. É possível. É necessário. E começa agora.

 

Rosalvi Maria Teofilo Monteagudo

Contista, pesquisadora, professora, bibliotecária, assistente agropecuária e articulista na internet. Mestre em cooperativismo pelo CEDOPE/UNISINOS, em São Leopoldo – RS. Foi editora responsável do boletim informativo do ICA/SAA, São Paulo, no qual criou o espaço “Repensando o Cooperativismo”. Organiza cursos, conferências, estandes em feiras e já foi voluntária na Pastoral da Criança.

 

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