Newsletter
Artigos

Autogestão e Economia Solidária no Brasil: Caminhos para uma Nova Organização do Trabalho e da Vida

A economia solidária e a autogestão constituem, juntas, um dos mais significativos movimentos de resistência e criação de alternativas ao modelo capitalista hegemônico. No Brasil, essas experiências ganham forma por meio de cooperativas, associações, empreendimentos populares e redes colaborativas que desafiam as estruturas tradicionais de produção e consumo. Neste artigo, discutimos como a autogestão se insere nesse processo, suas raízes históricas e as experiências brasileiras que inspiram um futuro mais justo e sustentável.

 

O Conceito de Autogestão

A autogestão é o princípio segundo o qual os trabalhadores administram coletivamente os processos decisórios de uma organização, empresa ou empreendimento. Ela rompe com a separação entre quem decide e quem executa, promovendo a horizontalidade, a corresponsabilidade e a transparência.

No campo da economia solidária, a autogestão não é apenas um método de gestão, mas uma filosofia de vida: propõe uma reorganização social em que as pessoas estejam no centro das decisões, valorizando o trabalho humano e os vínculos comunitários, acima do lucro e da competitividade.

 

Economia Solidária: uma resposta social brasileira

No Brasil, a economia solidária emergiu com força a partir da década de 1990, como resposta ao desemprego estrutural e à precarização do trabalho. No entanto, suas raízes podem ser traçadas desde o movimento operário do início do século XX, passando pelas Ligas Camponesas, pelas comunidades eclesiais de base e, mais tarde, pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), todos com práticas próximas da autogestão e da solidariedade econômica.

A criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) em 2003 foi um marco institucional importante. Ela reconheceu oficialmente a economia solidária como política pública, fortalecendo empreendimentos autogestionários e incentivando a criação de redes e fóruns regionais.

 

Experiências Autogestionárias no Brasil

 

1. Cooperativa Uniforja (SP)

Criada por ex-funcionários de uma metalúrgica falida no ABC paulista, a Uniforja se tornou um símbolo da capacidade dos trabalhadores de assumir o controle dos meios de produção. Autogerida desde os anos 1990, mantém práticas democráticas e salários igualitários.

 

2. Justa Trama (RS)

Rede de produção de vestuário que une desde plantadores de algodão agroecológico até costureiras e designers. Totalmente autogerida, mostra como a cadeia produtiva pode ser solidária e sustentável.

 

3. Banco Palmas (CE)

Criado dentro do Conjunto Palmeiras, em Fortaleza, é um banco comunitário autogerido que criou sua própria moeda social (Palma) e apoia financeiramente os empreendimentos locais. Tornou-se referência mundial em finanças 

A autogestão e a economia solidária no Brasil não são apenas alternativas marginais. Elas representam um novo paradigma de organização do trabalho e da vida, ancorado na participação direta, na dignidade humana e na sustentabilidade. Fortalecer essas práticas é um passo necessário para transformar o presente e abrir caminhos para um futuro menos desigual.

Rosalvi Maria Teofilo Monteagudo

Contista, pesquisadora, professora, bibliotecária, assistente agropecuária e articulista na internet. Mestre em cooperativismo pelo CEDOPE/UNISINOS, em São Leopoldo – RS. Foi editora responsável do boletim informativo do ICA/SAA, São Paulo, no qual criou o espaço “Repensando o Cooperativismo”. Organiza cursos, conferências, estandes em feiras e já foi voluntária na Pastoral da Criança.

 

O EasyCOOP e os cookies: nós usamos os cookies para guardar estatísticas de visitas, melhorando sua experiência de navegação.
Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade.