Poucas culturas são tão sensíveis ao clima quanto o café. A florada depende da chuva e do equilíbrio tênue entre o calor do dia e o frescor da noite, a chamada “amplitude térmica”. Qualquer desvio nessas variáveis cobra caro, como aconteceu neste ano com a queda da produção do arábica – reflexo de um 2024 que começou úmido, sofreu com a geada de agosto e, em seguida, enfrentou ondas de calor e seca até outubro, exatamente na janela da florada. Resultado? Um 2025 com menos grãos e preços mais altos para os compradores. Por isso, às vésperas da realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), no Brasil, levo a convicção de que a agenda do clima não é um apêndice da cafeicultura, ela já faz parte do coração do negócio.
Aqui, em Minas Gerais, as cooperativas têm sido exemplos na adoção de boas práticas produtivas que ajudam a garantir a sustentabilidade da cafeicultura local, como a agricultura regenerativa – que coloca o solo no centro do manejo, com cobertura permanente, aumento de matéria orgânica, diversificação de espécies e proteção de nascentes – e a agricultura de baixo carbono, que reduz emissões por saca e amplia o sequestro de carbono no solo por meio de adubação bem calibrada e utilização de bioinsumos. Somam-se a isso o reaproveitamento dos descartes da colheita para adubagem da lavoura, o investimento em eficiência energética por meio da geração fotovoltaica e a utilização de protocolos e certificações que atestam o compromisso do setor com a sustentabilidade.
Recentemente, uma importante cooperativa mineira foi a primeira do mundo – dentro do nosso setor – a receber a certificação internacional de cafeicultura regenerativa da Regenagri, uma das principais certificadoras do mundo, com sede em Londres, confirmando o compromisso das coops de Minas de Gerais com a saúde do solo, a biodiversidade, a água e a resiliência produtiva.
Na dimensão climática, a adoção de energia fotovoltaica nas estruturas do agro reduz emissões e também custos operacionais. Uma geração que, além de diminuir as emissões de gases de efeito estufa, reduz custos e libera fôlego financeiro para investir em gente, tecnologia e inovação no campo.
Nós estamos fazendo um trabalho muito importante no âmbito da cobertura permanente do solo, com elevação de matéria orgânica, proteção às nascentes e redesenho de sistemas que ampliam as dimensões de sustentabilidade no campo, inclusive para suportar eventos extremos.
E há um momento do calendário em que Minas Gerais pode mostrar essa riqueza com toda a clareza: a Semana Internacional do Café (SIC), vitrine para o mundo enxergar, de perto, a qualidade da produção mineira. E vale destacar: o evento acontece em nosso estado desde 2013 por uma conquista do cooperativismo mineiro, que defendeu a transferência da feira para cá por causa da força e da representatividade da cafeicultura local, que atualmente responde por 52% da produção nacional.
Ciente da importância que esses debates terão durante e após a COP30, o cooperativismo levou o tema para a SIC, com um painel sobre o valor do ESG – sigla em inglês para Environmental, Social e Governance (Ambiental, Social e Governança) – para a cafeicultura cooperativista, trazendo exemplos concretos de como nossas cooperativas têm mudado o manejo da terra e servido de vitrine para o Brasil e para o mundo nesse quesito. Uma trilha que nos tem conduzido à relevância de produzir metade do café mineiro e responder por 22% da produção nacional.
Afinal, já que o café é uma obra coletiva, cabe a nós assegurar que – da lavoura à xícara – o percurso seja compatível com um clima melhor e com a exigência de quem o consome.
Fonte: Jornal O Tempo