Receber o maior evento de combate às mudanças climáticas do mundo não é apenas um ganho na agenda diplomática. É um teste. Quando um país com a dimensão territorial, a força agrícola e a diversidade social do Brasil se propõe a ser anfitrião de uma Conferência das Partes sobre Mudança Climáticas, ele é convidado - e cobrado - a explicar que projeto de futuro está oferecendo ao próprio povo e ao planeta. Receber uma COP na Amazônia carrega muita responsabilidade. O planeta olha para nós não só como o país da maior floresta tropical, mas como uma sociedade que convive com contrastes profundos: um dos maiores produtores de alimentos e, ao mesmo tempo, uma nação que ainda sofre com a insegurança alimentar; um gigante em fontes de energia renováveis ainda dependente de combustíveis fósseis. E nesse arcabouço de contradições, o agronegócio brasileiro teve a oportunidade de comprovar, de uma vez por todas, que não é o vilão, mas um dos heróis quando o assunto é sustentabilidade ambiental.
O produtor rural brasileiro sofre - na pele e no campo - com os efeitos das mudanças climáticas, que provocam enchentes e secas, perda de colheitas, recordes de temperatura, e deixam populações inteiras em situação de vulnerabilidade. Ciente da gravidade do problema, ele tem trabalhado, de sol a sol, para combinar produtividade com sustentabilidade, investindo na agricultura e na pecuária de baixo carbono, nas agroflorestas, em técnicas de regeneração do solo, e na ampliação do uso de bioinsumos e tecnologias de precisão. Mas essa nova agricultura só acontece quando os produtores encontram crédito adequado, assistência técnica e, sobretudo, apoio da sociedade para continuar gerando prosperidade para o Brasil.
Aqui, em Minas Gerais, o agronegócio é pujante e pratica a sustentabilidade. Veio daqui a primeira cooperativa do mundo com certificação internacional em agricultura regenerativa. Nosso modelo de negócios, aliás, é pioneiro na rastreabilidade do café, na disseminação de boas práticas de cuidado com o solo e a água, na regularização ambiental das propriedades, na recuperação de nascentes e na proteção das matas.
Também fizemos, por meio do cooperativismo, uma escolha que considero emblemática: investir na transição energética do setor, optando por uma matriz limpa e renovável. Este movimento está sendo capitaneado pelo MinasCoop Energia, programa idealizado pelo Sistema Ocemg que se tornou a principal referência de energia fotovoltaica do coop brasileiro. A iniciativa foi, inclusive, apresentada em um painel na Green Zone da COP30, no último dia 19, e mostrou ser possível combinar responsabilidade ambiental e compromisso com o desenvolvimento das pessoas. Como? Gerando energia suficiente para abastecer as 52 cooperativas do projeto e doando mais de 2,6 milhões de kWh por ano a cerca de 80 instituições filantrópicas, impactando a vida das cerca de 4,3 milhões de pessoas atendidas por elas. A iniciativa também gera empregos nas 88 comunidades onde atua, e garante uma renda fixa mensal para 12 famílias rurais que arrendam áreas antes ociosas para a instalação das placas solares. Para completar, evita a emissão de mais de 18 toneladas de carbono por ano, contribuindo de forma eficiente para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
A soma dos impactos econômicos, sociais e ambientais do MinasCoop Energia garantiu que ele fosse apresentado não apenas na COP30, mas em quatro edições do evento, entre 2021 e 2024. Nossa presença neste e em outros fóruns globais sobre o futuro do planeta é mais do que um reconhecimento técnico; é um sinal de que o mundo começa a perceber algo que nós, cooperativistas, experimentamos há muito tempo: a cooperação é uma forma bem estruturada de organizar a economia.
Costumo dizer que não se constrói um paraíso social em cima de uma ruína econômica, mas hoje digo que o inverso também é verdadeiro: não faz sentido defender uma economia dinâmica que ignore a urgência climática e a dignidade das pessoas. O mérito do cooperativismo é demonstrar que não precisamos escolher entre as duas coisas. Sempre acreditei que cooperar é uma ideia simples e poderosa e ver projetos do setor ocuparem espaço em um evento do porte da COP30 reforça essa convicção, pois também não há sustentabilidade ambiental sem sustentabilidade econômica.