Nestes últimos meses de todos os anos é tempo das reuniões de planejamento estratégico: revisamos os resultados, projetamos os cenários, tomamos decisões analisando tabelas de ameaças e oportunidades, avaliamos nossos pontos fracos e pontos fortes. Ao final, os rascunhos vão para os especialistas que revisam os termos técnicos e para os designers que os convertem em caprichados cadernos com ilustrações motivadoras. Entretanto a questão fundamental é: todo este esforço resultou mesmo em algo que impacta nos resultados? Elevou a capacidade da cooperativa em produzir riquezas?
Nas metas e objetivos, definidos com um certo pudor, chamam de sobras, o que é lucro; ingressos, o que é receita ou faturamento; são tímidas ao se referirem à participação no mercado e contornam o vocabulário ao se referir à busca da vantagem competitiva, embora nos discursos do final do exercício o Presidente mostre orgulhoso o desempenho superior ao dos concorrentes. Elas estão absolutamente corretas ao deixarem bem claro que clientes, fornecedores e acionistas são de fato associados, também donos do negócio e cooperados – pois devem operam juntos – para a concretização dos resultados.
As lideranças sabem muito bem planejar e administrar as cooperativas como negócios; vêm provando isso com seus robustos resultados econômicos nos últimos anos. Em tempos tão incertos, decidir certo depende de o que nas reuniões de planejamento foi considerado qual deveria ser o verdadeiro negócio da cooperativa, qual é a riqueza que ela deve produzir e, principalmente, quem se beneficiará da riqueza e dos bons resultados produzidos por ela.
Peter Drucker, um dos mais importantes autores sobre gestão estratégica, cunhou há mais de cinquenta anos a famosa definição: “Liderar é produzir resultados através das pessoas”. Foi influenciado por Igor Ansoff, considerado o Pai da Gestão Estratégica, que trouxe matrizes de análise do ambiente que ainda são ferramentas muito utilizadas. Um conceito seu, tão importante quanto pouco conhecido quanto à finalidade última das empresas, é que são uma OSA-Organização a Serviço do Ambiente. Se aliarmos aos Princípios Cooperativistas poderíamos criar outra definição: “Liderar é produzir riquezas para as pessoas!”
As pessoas são os colaboradores da cooperativa, são os moradores das comunidades onde elas atuam e – muito importante! – também são os colaboradores do conjunto das cooperativas associadas, clientes e fornecedores. Este é o ambiente-social para o qual a cooperativa deve produzir riquezas, o foco realmente estratégico de seu planejamento.
As matrizes e indicadores econômicos e financeiros, participação no mercado, regularidade dos processos, redução de custos e aperfeiçoamento das competências são condições necessárias para que a cooperativa seja uma organização saudável. O planejamento deve ir além disso. Tabelas e gráficos mostram o placar com os resultados do jogo, porém não mostram por que o jogo é jogado. Este porquê é a condição verdadeiramente estratégica e se vincula à filosofia, cultura, ética e responsabilidade social.
Uma decisão estratégica, talvez não claramente compreendida, é que investir na transformação cultural das empresas clientes e das fornecedoras trará melhoria direta à riqueza da comunidade. Colaboradores mais comprometidos potenciarão os ganhos da cooperativa através da melhoria do relacionamento e fidelização das empresas clientes.
Estas declarações estratégicas devem sair do subentendido das tabelas e gráficos e se tornar explícitas, dotadas de recursos, ter metas atribuídas a responsáveis que serão avaliados por indicadores tão objetivos quanto aos dos resultados econômicos e ganhos de mercado.
Liderar uma cooperativa é acreditar e fazer acontecer uma utopia, a de que é possível ser uma organização rica e saudável, considerando que o bem-estar e dignidade dos seus colaboradores faz parte de seus propósitos. Fazer que seus resultados beneficiem a comunidade não só gerando empregos, benfeitorias e pagamento de impostos. Estar a serviço da comunidade é ser agente transformador, promovendo os princípios cooperativistas de incentivar a intercooperação, formação e transformação para que esta prosperidade seja alcançada por uma sociedade com cultura ética e humanista.