Dias atrás o jornalista Lauro Jardim estampou em sua coluna no O Globo, um comentário que a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) teria procurado o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e sugerido que, na busca do governo por maior arrecadação tributária, que se olhasse para o cooperativismo de crédito, e o tributasse; como se nós, neste setor do cooperativismo financeiro, já não o fossemos.
Aliás, aqui e em qualquer lugar onde tenhamos governo e mercado regulado, a atividade produtiva contribui para os cofres do governo, embora nem todo cidadão e cidadã tenha essa clara percepção. É assim como as coisas funcionam, onde chamamos de civilização. É discutível a postura ética da Febraban, pois, além dos bancos, os agentes do cooperativismo financeiro são filiados a essa mesma federação da indústria financeira brasileira.
Posto estas e outras questões, não podemos deixar passar a oportunidade e buscar compreender qual o efetivo motivo de tamanha deselegância da Febraban com alguns de seus associados. Buscando contribuir com essa reflexão, vamos lá: até o início de 2020, as cooperativas financeiras representavam menos de 5% do mercado nacional das instituições financeiras. Ao final de 2023, já alcançamos os dois dígitos de participação, ou seja 10%, segundo dados do Banco Central do Brasil. De 2022 para 2023, o número dos cooperados cresceu 55%.
Apesar deste crescimento vertiginoso, os números brasileiros são tímidos quando comparados com as principais economias globais. A Revista Exame recentemente publicou uma matéria e revelou que nos Estados Unidos, berço maior do capitalismo, 81 de cada 100 cidadãos americanos economicamente ativos, movimentam suas contas com cooperativas de crédito; dos ativos que circulam na economia daquele país, cerca de um terço está depositado em cooperativas. Na França, 92% da população ativa economicamente movimentam nas cooperativas e 40% do mercado financeiro trabalha com as cooperativas financeiras. Ficamos só com estes dois países, mas podemos observar nossos números no Brasil são bem mais tímidos: apenas 17 entre cada 100 brasileiros economicamente ativos usam cooperativismo financeiro.
E por que o cooperativismo avançou tanto no mercado financeiro do Brasil nos últimos anos? Os motivos são diversos, entre eles, o fato de que nos cerca de 5.700 municípios brasileiros, em aproximadamente 6% a única instituição financeira existente na cidade é uma cooperativa de crédito; o Sistema Cooperativista se profissionalizou, e em época em que a digitalização vai tomando conta das ações; as nossas cooperativas além de oferecem serviços digitais, também tem hoje a maior rede de agências físicas para atender a população.
No mundo, cerca de 17% das pessoas frequentam bancos presencialmente. Embora o Sistema Bancário Brasileiro seja o mais avançado no mundo, principalmente por conta da tecnologia usada por nossas instituições; os brasileiros ainda vão mais aos bancos do que em outros países: 22% dos brasileiros ainda vão às agências bancárias.
Não se pode deixar de reconhecer a boa visão do Banco Central para com o cooperativismo.
Conferindo credibilidade e desafio às nossas instituições financeiras, inicialmente o presidente Henrique Meirelles deu um bom passo com a Lei Complementar 130/2009, e mais recentemente o presidente Roberto Campos Neto, juntamente com diversos representantes do setor, e uma expressiva bancada de parlamentares cooperativistas, a Lei Complementar 196/2022 foi editada. Isto acabou por conferir ao cooperativismo financeiro um “background”. Estes fatores vêm impulsionando nossos avanços. Disputar espaço neste tão concentrado mercado da indústria financeira brasileira segue sendo desafio.
Vamos assumindo um papel já cumprido em muitas partes do mundo por instituições similares. Somos balizadores de mercado para cobrança de juros e serviços dentro de proporções mais adequadas, que promovem a justiça financeira. É provável que estes fatos podem estar “pressionando” o “liberalismo” que sempre é chamado à tona quando se clama por melhores condições de “competitividade”. Conforme destaca um conhecido consultor do nosso setor, Ricardo Coelho, permito-me usar sua expressão para encerrarmos esta abordagem: “Concordar é secundário, refletir é urgente”.