WCM debate uso da inteligência artificial alinhado aos princípios do cooperativismo
23/09/2025
Em uma era na qual conhecimento, relacionamento e visão estratégica caminham juntos, Belo Horizonte recebe dirigentes e especialistas para dois dias de imersão no World Coop Management (WCM), principal evento de liderança do cooperativismo da América Latina. Com foco em inovação e gestão, a edição 2025, realizada nos dias 22 e 23 de setembro no Minascentro, aprofunda o debate sobre inteligência artificial aplicada ao setor e reúne referências do cooperativismo no Brasil e no mundo.
Na abertura do evento, o presidente da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), Ariel Guarco, afirmou que é preciso aproveitar o marco histórico do Ano Internacional das Cooperativas, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU), para mostrar o papel do movimento na construção de um mundo mais justo e equilibrado. “O cooperativismo atua como uma diplomacia civil. Onde falta diálogo, reconstrói vínculos e entrega respostas locais a desafios globais”.
O presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, também citou o reconhecimento da ONU ao cooperativismo e afirmou que a melhor retribuição é trabalhar para fortalecer a ampliar a atuação das cooperativas. “O cooperativismo é um grande armazém de confiança: quanto mais usamos, mais retorna. Onde há cooperativa, a qualidade de vida melhora e o ambiente se fortalece. É assim que respondemos às adversidades”.
Ronaldo Scucato, presidente do Sistema Ocemg, ressaltou o compromisso do cooperativismo com as pessoas e afirmou que as mudanças no setor devem ser implementadas com responsabilidade e sem abrir mão dos princípios e valores do movimento. “O cifrão jamais passa à frente das pessoas: o econômico precisa servir ao social. É hora de valorizar nossos quadros, apoiar a juventude e usar a inteligência artificial a serviço das pessoas, com respeito, responsabilidade e compromisso com o bem comum”.
Liderança ética
Após a mesa de abertura, duas palestras conectaram visões complementares sobre o futuro da gestão cooperativista: liderança centrada em pessoas e ética como estratégia. A apresentadora e diretora Danni Suzuki defendeu práticas de gestão centradas em pessoas, propósito e relações de confiança.
“Liderança começa na inteligência emocional: valores claros e identidade firme impedem que vivamos a opinião alheia. Com comunicação humanizada, surge a sintonia, entramos no mundo do outro e enxergamos sua perspectiva. Nas cooperativas, a visão é coletiva: o mundo não é sobre mim, é sobre nós. No servir, o propósito aparece; sem propósito, a riqueza acumula e vira fardo”.
Já o filósofo e professor canadense Michel Séguin abordou a ética como vantagem competitiva, articulando integridade, transparência e tomada de decisão responsável no cotidiano das cooperativas. “Ética é meio, não fim. É para vivermos melhor juntos. Nas cooperativas, parte da finalidade e vira estratégia”.
Inteligência artificial em foco
Um dos temas centrais do evento, o uso da inteligência artificial no cooperativismo foi debatido em várias áreas: da governança à conexão com as competências humanas. “Não há mistério: para funcionar, a inteligência artificial precisa de propósito. Em escolhas sensíveis, o humano entra. Acompanhamos, auditamos e separamos o real do sintético. Transparência e prestação de contas não travam inovação; elas evitam danos e preservam confiança duradoura”, afirmou Monica Verma, especialista em inteligência artificial, liderança e cibersegurança.
Considerado um dos principais especialistas em IA do mundo, o pesquisador Tony Ventura destacou que a tecnologia deve ser incorporada como um hábito para gerar resultados. “ Atualização constante, governança e senso crítico convertem curiosidade em eficiência, segurança e negócios”.
Já o especialista em inovação e economia digital Gil Giardelli convidou os participantes do WCM a uma reflexão sobre o papel da tecnologia para promover um mundo mais cooperativo. “Vivemos uma mudança de era: tecnologias e modelos pós-smartphone redesenham a economia e a vida. Precisamos atualizar a mentalidade, reduzir desigualdades Norte-Sul e colocar a IA a serviço do bem-estar, da educação e empregos dignos. Ou o futuro será de todos, com cooperação, ou não será de ninguém”.
Conhecimento e ação
Com cerca de 2 mil participantes presenciais, o WCM 2025 reúne um público altamente engajado: 87% frequentam congressos regularmente, 74% participam de associações e grupos de troca, e 40% concluíram ao menos uma especialização nos últimos três anos. Entre as cooperativas representadas, 52% são grandes, 30% médias e 18% pequenas.
“Ao trazer conhecimento de ponta, tendências globais e experiências inspiradoras, o evento ajuda as lideranças a repensarem modelos de gestão e aprimorar práticas de governança, elevando o padrão do setor como um todo”, afirma Luiz Branco, CEO do World Coop Management.
O diretor regional da ACI Américas, Danilo Salerno, destacou o WCM como um evento que reforça o pertencimento e transforma debates em roteiro de trabalho para os próximos ciclos do movimento. “Este encontro renova compromissos, amplia visibilidade e organiza próximos passos: expandir parcerias, formar novas lideranças e converter aprendizados em ações mensuráveis ao longo do ano”.
Prioridades até 2035
No painel Cooperativismo 2035 — O futuro que estamos construindo hoje, mediado pela líder de inovação no Sebrae Minas, Lina Volpine, os convidados destacaram a cooperação entre coops, a inclusão tecnológica com sustentabilidade e a gestão guiada por dados como chaves para resultados com propósito.
“Competição tem limite, a cooperação nos leva mais longe. Precisamos formar alianças entre cooperativas e cultivar a cultura cooperativista desde a escola — só assim damos o exemplo que defendemos”, afirmou o presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken.
O ex-presidente do Sistema OCB e ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, destacou que, diante de um cenário de transformações aceleradas, as cooperativas devem inovar sem perder o foco nas pessoas e nas comunidades. “Vivemos uma desordem econômica e social. A tecnologia avança e pode excluir quem fica para trás. O papel das cooperativas é garantir acesso, inclusão e sustentabilidade, equilibrando eficiência com valores”.
A superintendente do Sistema OCB, Tania Zanella, também ressaltou o diferencial cooperativista de gerar resultados para promover a prosperidade e a inclusão e disse que o movimento está atento às tendências globais. “O futuro pede inovação como estratégia, governança e gestão profissionalizadas, sucessão planejada e participação diversa — decisões orientadas por evidências”.
Sistema Ocemg