Padre Theodor Amstad: o legado do Patrono do Cooperativismo Brasileiro
06/11/2025
No dia 9 de novembro de 1851, nascia o Padre Theodor Amstad, em Beckenried, na Suíça. No entanto, foi no Brasil que os seus feitos entraram para a história, tendo liderado a criação de diversas cooperativas de crédito. Em reconhecimento às suas contribuições, desde 2019 o padre é oficialmente considerado o Patrono do Cooperativismo Brasileiro, de acordo com a Lei n° 13.926.
Neste artigo, resgatamos a trajetória dessa liderança que não se limitou ao trabalho religioso, mas buscou auxiliar o desenvolvimento das comunidades que frequentava, e como o cooperativismo desempenhou um papel central nesse processo. Continue conosco para conhecer o legado construído por Amstad e se inspirar com as ações que ele protagonizou.
Boa leitura!
Europa: juventude e estudos
As habilidades mais marcantes do Padre Amstad já eram visíveis quando ele ainda era menino. O meio em que cresceu teve uma influência positiva sobre o seu desenvolvimento. Sua família era religiosa e tinha uma condição financeira confortável, fruto das atividades de um armazém local que administrava. Seu pai era José Maria Amstad, e sua mãe, Regina Amstad-Christen, que criaram sete filhos no total.
Em 1863, aos 12 anos de idade, o futuro Padre Amstad finalizou o ensino primário. No ano seguinte, começou a frequentar o colégio jesuíta em Feldkirch, na Áustria, onde realizou o secundário. Devido à enfermidade de seu pai, Amstad assumiu responsabilidades desde jovem, tornando-se chefe do armazém da família aos 13 anos, além de ter trabalhado como carteiro. Ele ajudava a fazer registros, exercendo desde cedo o seu conhecimento da matemática.
Aos 15 anos, com a morte de seu pai, Amstad assumiu os negócios da família. Com 18 anos, em 3 de outubro de 1870, entrou para a vida sacerdotal como noviciado. Devido a conflitos do governo com os jesuítas na Suíça, ele e outros praticantes da ordem religiosa precisaram sair do país. Assim, em 1972, começou a cursar Humanidades em Wynandsrade, na Holanda.
Na Áustria, em 1877 e 1878, atuou como professor no Colégio Stella Matutina de Feldkirch. Em 1881, foi para a Inglaterra para cursar Teologia. Em 8 de setembro de 1883, ainda no mesmo país, ele recebeu a ordem sacerdotal, tendo realizado sua primeira missa no dia seguinte.
Em 1885, o padre foi chamado para iniciar seu trabalho missionário. Ele foi indicado para viajar para a Itália, mas com uma intervenção do padre Agostinho, conseguiu alterar seu destino para o Brasil.
Brasil: trabalho missionário e filantrópico
Em 1885, o Padre Theodor Amstad viajou para o Brasil, designado especialmente para dar assistência eclesiástica aos imigrantes germânicos que vieram para o País a partir de 1824. Depois de uma breve estadia no Rio de Janeiro, chegou a Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em 18 de setembro.
No entanto, foi na região de São Sebastião do Caí que o padre exerceu a maior parte do seu trabalho missionário, onde atuou por 12 anos, percorrendo com uma mula as capelas do interior. Estima-se que ele tenha percorrido mais de 150 mil quilômetros montado, circulando em comunidades rurais do Rio Grande do Sul.
Observador como era, logo percebeu que as famílias não careciam apenas de assistência religiosa, mas também de apoio financeiro e educação. O padre acreditava que esses problemas poderiam ser minimizados por meio da ajuda mútua. Com essa filosofia, em 1900 fundou a primeira Associação de Agricultores do Brasil, também conhecida como Bauernverein. A instituição era interconfessional, reunindo católicos e protestantes.
Em 28 de dezembro de 1902, Amstad ajudou a constituir a primeira cooperativa financeira da América Latina, a Caixa de Economia e Empréstimos Amstad, em Linha Imperial, no município de Nova Petrópolis. Hoje, a cooperativa é conhecida como Sicredi Pioneira RS, a instituição financeira privada mais antiga do Brasil. No início, a cooperativa seguia os moldes das caixas rurais do sistema Raiffeisen.
O primeiro depósito, inclusive, foi feito pelo Padre Amstad, no valor de 100$000 réis, em nome da Comunidade Católica de Faria Lemos. A liderança incentivava as pessoas a pouparem e defendia que a caixa rural não deveria ter unicamente fins lucrativos, mas também promover a colaboração e a solidariedade entre os seus membros.
Além da Sicredi Pioneira, o padre também ajudou a fundar outras 36 cooperativas entre os anos de 1903 e 1940. Paralelamente, Amstad manteve o seu trabalho religioso, atuando como missionário na paróquia de São José do Hortêncio (1897 a 1905) e em Linha Imperial, em Nova Petrópolis (1905 a 1908). De 1908 a 1912, foi vigário-cooperador na paróquia de Lajedo. Em 1919, sofreu um acidente de montaria, que o obrigou a encerrar suas viagens, embora não tenha cessado seu trabalho missionário.
Amstad também se destacou por outras causas, como a valorização das mulheres, instigando-as a terem voz ativa, e a atender necessidades das comunidades de imigrantes. Um exemplo foi a sua contribuição para a formação de parteiras. O padre percebeu que faltavam médicos e hospitais nas regiões que percorria, e as parturientes frequentemente faleciam no parto por não terem assistência. Por isso, em 1912 criou a associação popular Volksverein, por meio da qual contratou um médico que formou centenas de parteiras.
Devido ao acidente sofrido com sua mula, o padre permaneceu em uma cadeira de rodas de 1923 até a sua morte, que ocorreu em 7 de novembro de 1938, na Chácara dos Jesuítas, em São Leopoldo (RS). Ele faleceu a dois dias de completar 87 anos.
Monumento em memória ao Padre Amstad
A história do Patrono do Cooperativismo Financeiro foi preservada fisicamente na comunidade de Linha Imperial, em Nova Petrópolis. Em 1942, foi inaugurado um monumento em sua homenagem, situado na Praça Padre Theodor Amstad.
A obra contém os dizeres “Ao iniciador do cooperativismo de crédito no Brasil”, “Colonorum Pater” – Pai dos Colonos em latim – e “Omnibus Omnia” – na tradução Tudo para Todos. O monumento ainda elenca as cooperativas que ajudou a fundar.
Referências:
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