Café cooperativo sustentável em destaque na SIC
11/11/2025
As cooperativas mineiras são protagonistas na cafeicultura do Estado não apenas pela grande participação de mercado, mas pelo compromisso com a produção sustentável e alinhada às demandas ESG. Essa atuação foi destaque durante a 13ª Semana Internacional do Café (SIC), realizada entre 5 e 7 de novembro, em Belo Horizonte, com o painel “Da Terra à Transformação: o Valor ESG das Cooperativas do Café”, promovido pelo Sistema Ocemg.
O evento reuniu lideranças do setor para debater soluções concretas nas frentes ambiental, social e de governança, com destaque para iniciativas inovadoras de cooperativas cafeeiras de diferentes regiões do Estado.
Mediador do painel, o analista de Educação e Desenvolvimento Sustentável Thiago Machado, do Sistema Ocemg, ressaltou que a sustentabilidade não é uma escolha para as cooperativas, mas uma exigência de mercado. Segundo ele, a agenda ESG deve ser compreendida como uma oportunidade concreta de geração de valor.
“ESG é comportamento, é estratégia e é produtividade. Quem adota boas práticas tem melhores resultados. Há estudos que indicam até 23% de ganho de produtividade em negócios com agenda sustentável consolidada”, avalia.
Em seguida, o analista de Desenvolvimento e Monitoramento de Cooperativas José Fidélis apresentou um panorama do impacto do cooperativismo cafeeiro na economia mineira. Segundo ele, Minas Gerais tem 53 cooperativas dedicadas ao café, que reúnem mais de 105 mil produtores rurais.
“O cooperativismo mineiro representa mais da metade da população do Estado. Só no café, as 53 cooperativas movimentaram R$ 35 bilhões no último ano e foram responsáveis por 45% do café cooperativo exportado”, detalhou. “É um setor altamente representativo, com impacto direto na geração de renda, empregos e reconhecimento internacional”.
Agricultura regenerativa
Durante o painel promovido pelo Sistema Ocemg, o diretor-presidente da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer), Simão Pedro, apresentou as práticas da cooperativa no campo da cafeicultura regenerativa. Ele destacou que o compromisso com o ESG não é um tema isolado em um departamento, mas uma postura que reflete o modo de ser da cooperativa, desde a lavoura até a governança.
Pedro também apresentou os números e iniciativas de sustentabilidade da Expocacer: mais de 20 mil hectares com certificações ambientais distribuídos em 358 fazendas, uso de combustíveis renováveis na frota, projetos de gestão hídrica, ações de educação, sucessão e equidade, e uma estrutura de governança customizada à realidade dos produtores do Cerrado. Segundo ele, esses esforços respondem a uma nova lógica de consumo.
“Hoje, o consumidor quer saber como o café foi produzido antes mesmo de avaliar preço ou qualidade”, destaca. “A cafeicultura regenerativa é a resposta a essa geração. Não é moda, é um sistema sólido, com resultados ambientais, sociais e econômicos. E é também um convite ao diálogo: mais do que técnica, é comportamento, é cultura cooperativista em ação”.
Inovação sustentável
A Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé) apresentou um case pioneiro de inovação ambiental na produção cafeeira: a parceria com a startup francesa NetZero para a instalação da primeira fábrica de biochar da América Latina. O projeto transforma a palha do café em um biofertilizante que retém carbono e água, melhora a produtividade e reduz as emissões de gases do efeito estufa.
O gerente de Desenvolvimento Técnico da cooperativa, Valdean Teófilo, explicou como a iniciativa alia sustentabilidade, tecnologia e valorização do produtor rural. Segundo ele, a fábrica já processa toneladas de palha de café por ano, gerando um bioinsumo que retém de 3 a 5 litros de água por quilo e pode elevar em até 17 sacas por hectare a produtividade da lavoura. A estimativa é que cada tonelada de biochar seja capaz de reter 1,68 tonelada de CO² equivalente. A iniciativa beneficia diretamente pequenos produtores das Matas de Minas e dialoga com temas como carbono neutro, sucessão rural e agregação de valor na cadeia do café.
“Esse tipo de inovação mostra que sustentabilidade também é negócio”, explica. “Além de gerar impacto ambiental positivo, o biochar ajuda na retenção de nutrientes, reduz o uso de fertilizantes, melhora o solo e valoriza o produto. É um caminho para que as novas gerações enxerguem no campo uma oportunidade de futuro e, nas cooperativas, um modelo que cuida da terra e das pessoas”.
Propósito que engaja
Fechando o painel, a Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas (Cocatrel) trouxe como destaque suas iniciativas voltadas para a formação de lideranças, desenvolvimento de talentos e fortalecimento da cultura cooperativista como pilares da sustentabilidade no campo. Em um cenário de crescimento acelerado, com unidades em 15 cidades e atuação em 125 municípios, a cooperativa tem investido em programas internos que unem gestão, propósito e sucessão.
O presidente do Conselho de Administração da Cocatrel, Jacques Miari, reforçou que o ESG no cooperativismo precisa ser mais do que um conceito. Ele citou como exemplo o programa Gestão em Foco, criado para integrar equipes, desenvolver lideranças e preparar sucessores em todas as unidades da cooperativa. Em paralelo, o programa Formação Cooperativista tem aproximado filhos de cooperados e novos talentos da gestão do negócio. Ambos, segundo Miari, respondem aos desafios de atrair as novas gerações e manter o espírito cooperativista vivo.
“A Geração Z quer trabalhar com propósito. Quer participar, entender, ter voz ativa. E as cooperativas precisam estar prontas para isso. Nosso papel é inspirar colaboradores, cooperados e comunidades. Sustentabilidade é isso: gerar resultados que não sejam só financeiros, mas sociais. Formar pessoas que fazem o cooperativismo acontecer de verdade, todos os dias”.
Sistema Ocemg