Desafios globais, soluções locais
03/12/2025
Cuidar de pessoas, da natureza e dos territórios sempre esteve nas práticas do cooperativismo mineiro. Incluem-se nessa lista o Dia de Cooperar (Dia C), o Projeto Coop Encena, e o MinasCoop Energia — programa de transição energética das cooperativas mineiras, que conta com a participação de 52 cooperativas, já construiu 138 usinas fotovoltaicas em 88 municípios, beneficiando 80 instituições filantrópicas, responsáveis pelo atendimento de mais de 4,3 milhões de pessoas e pela geração de renda fixa mensal para 12 famílias de produtores rurais. Esses e outros resultados foram apresentados no Seminário de Responsabilidade Social das Cooperativas Mineiras, que reuniu 350 cooperativistas no The One Eventos, em Belo Horizonte, na semana passada (25/11).
Com o tema “Desafios Globais, Soluções Locais”, o evento reforçou o papel do setor na construção de agendas transformadoras e conectadas à pauta climática internacional. Para o presidente do Sistema Ocemg, Ronaldo Scucato, a 19ª edição do seminário simboliza a consolidação de um trabalho contínuo, que une compromisso ambiental, atuação social e governança cooperativista.
“Encerramos as atividades de 2025 com uma programação robusta, grandes nomes e resultados concretos”, disse. “Acabamos de voltar da COP30, onde apresentamos, com orgulho, iniciativas reais do cooperativismo mineiro em energia limpa e responsabilidade socioambiental. Não se trata apenas de falar: estamos fazendo. E seguimos mostrando ao Brasil o que o setor é capaz de entregar”.
O encontro também foi marcado pela assinatura de um acordo inédito entre a Prefeitura de Belo Horizonte e o Sistema Ocemg para desenvolver ações conjuntas nas áreas de reflorestamento, educação ambiental e gestão de resíduos sólidos. A motivação da parceria, segundo o subsecretário municipal de Gestão Ambiental e Clima, Dimitrius Chaves, representante da administração municipal na cerimônia, foi a necessidade de ações concretas diante da crise climática. “O dia mais quente deste ano, em Belo Horizonte, aconteceu no inverno. Isso mostra que a mudança do clima já bate à nossa porta”, afirmou.
Impacto Social
Ao longo de 2025, coops de diferentes ramos desenvolveram projetos voltados à inclusão, ao meio ambiente e à melhoria da qualidade de vida nos territórios onde atuam. Os dados ligados à pauta ESG — sigla em inglês para meio ambiente, responsabilidade social e governança — foram apresentados pelo superintendente do Sistema Ocemg, Alexandre Gatti Lages, que acabou de retornar de uma apresentação na COP30 sobre o MinasCoop Energia.
“Quando falamos em responsabilidade social no cooperativismo, falamos de presença, escuta e transformação real nos lugares onde estamos. Os dados mostram um avanço consistente, mas o que nos move verdadeiramente é a capacidade de gerar valor para as pessoas, com participação, parceria e visão de longo prazo”.
Lições que ficam
Para marcar o encerramento desse ciclo e ampliar o debate sobre os desafios do presente e do futuro, o Seminário de Responsabilidade Social das Cooperativas Mineiras convidou três especialistas para conversar com o público cooperativista sobre sustentabilidade.
Na palestra “Prontos ou Não? Desafios para o Cumprimento dos ODS”, Marcos Pinheiro — Consultor e professor de “ESG e inovação social”— destacou o papel das organizações no alcance das metas da Agenda 2030. “Mais de dois terços do prazo já passou e só 18% das metas estão perto de ser cumpridas”, explicou. “As empresas que não entenderem esse movimento vão ficar para trás, seja no mercado, na regulação ou na atração de pessoas”, alertou.
Já o professor e pesquisador Diogo Cortiz abordou os impactos da inteligência artificial como uma tecnologia de transformação estrutural. Para ele, é preciso tratar a IA não só como ferramenta, mas como infraestrutura que reconfigura comportamentos, processos e relações humanas. “Assim como a eletricidade ou a internet, a inteligência artificial muda tudo ao seu redor, inclusive a forma como cuidamos do planeta”, afirma. “Ela pode regenerar ou colapsar. Por isso, precisamos regulá-la com critérios sustentáveis e valores humanos”.
Fechando o ciclo de reflexões, o biólogo Hugo Fernandes defendeu que não há sustentabilidade ambiental sem sustentabilidade financeira e vice-versa. Ele destacou o papel das cooperativas na construção de economias circulares e na geração de valor em territórios muitas vezes desassistidos. “Quando falamos em conservação, falamos também de renda, segurança e permanência”, detalhou. “As cooperativas estão onde o mercado não chega. São elas que podem ativar mercados de carbono, reflorestamento e turismo sustentável, conectando biodiversidade e dignidade”.
Humanidade com humor
Para encerrar o evento, a apresentadora, atriz e psicóloga Marisa Orth provocou reflexões sobre o que permanece essencial diante de tantas transformações, inclusive as tecnológicas. Em tempos de inteligência artificial, eficiência extrema e falas otimizadas, ela propôs um olhar generoso e bem-humorado sobre aquilo que ainda nos faz humanos: as fragilidades, a convivência, o afeto e a escuta.
“Estamos premiando demais quem não sente nada. Eu quis valorizar a parte que fracassa, que retoma, que duvida, que sente”, explica. “A gente precisa continuar perguntando e tendo curiosidade pelo outro. Não dá para evoluir sozinho”.
Vozes do cooperativismo
Confira a opinião do público cooperativista sobre o Seminário de Responsabilidade Social das Cooperativas Mineiras 2025:
“A sustentabilidade e o cuidado com o planeta são temas cada vez mais urgentes. O Sistema Ocemg tem liderado esse movimento e inspirado as cooperativas singulares a fazerem sua parte. Quando unimos os esforços de cada uma, vemos o quanto pequenas ações podem gerar grandes transformações nas comunidades”.
Zélia Maria Alves Rabelo, presidente do Conselho de Administração da Sicoob Cosmipa
“Discutir temas atuais é essencial para desenvolver projetos conectados à Agenda 2030 e às realidades locais. Quando alinhamos os ODS ao ramo de atuação de cada cooperativa, conseguimos ações mais objetivas, com impacto real. O seminário é um espaço rico de trocas e inspiração para novos caminhos”.
Katia Brito, analista de responsabilidade social da Unimed Vale do Aço
Sistema Ocemg