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Catadores do Rio Grande do Sul lutam para retomar o trabalho em melhores condições

13/08/2024

Quem chega a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, não consegue imaginar que a capital ficou embaixo d’agua por cerca de um mês após a maior catástrofe climática já registrada no Brasil até o momento. Há poucas marcas da destruição causada pela enchente na região central a áreas nobres, um cenário bem diferente do encontrado nas regiões periféricas e comunidades pobres que vivem até hoje um ambiente caótico e de incerteza. A lama e a sujeira são bem visíveis nessas regiões, onde os serviços públicos básicos não chegaram até o momento. Dezenas de lixões improvisados estão concentrados nessas comunidades de periferia.

“Há muito tempo sofremos com as enchentes, agora que a água chegou na casa da classe média eles chamam de catástrofe climática e se preocupam. As mudanças climáticas já chegaram pra gente faz tempo, mas ninguém fez nada”, relata Fagner Jandrey, catador e representante do MNCR no Estado.

Bairros precisaram ser drenados para que o trabalho de limpeza pudesse começar e o retorno para casa fosse possível. No entanto, muitas pessoas não têm mais casa para voltar. O que mais se ouve nos relatos sobre a enchente é a frase “pedi tudo que tinha”. Centenas de pessoas têm vivido em barracas improvisadas a beira das estradas.

“Vivi por mais de um mês em cima da BR esperando a água baixar. Depois voltamos pra casa só para jogar tudo fora, roupa, moveis, geladeira, fogão…. Tudo que nós tínhamos dentro de casa, nós perdemos”, declarou a catadora de materiais recicláveis Janaína Gonçalves da Silveira, que esta nessa atividade desde os 9 anos de idade.

 

Ela foi umas das trabalhadoras que tiveram seu local de trabalho destruído completamente pela enchente. A água levou os materiais recicláveis, equipamento de trabalho, o telhado e os muros do galpão, além de danificar dois veículos. Ela ressalta a ironia: “Sou uma das fundadoras do primeiro galpão de reciclagem de Porto Alegre, mas agora não tenho mais galpão”. Ela mora no bairro Farrapos, uma comunidade pobre no entorno do estádio do Grêmio, por essa razão o poder publico há décadas pressiona pela expulsão dos moradores para valorização comercial da região. Mesmo sem ajuda da Prefeitura, de não disponibilizou ajuda nem para retirar o entulho, Janaina esta reconstruindo a cooperativa do zero. Conseguiu a doação de madeira e telhas para recomeçar no terreno onde ainda paga aluguel.

Outras 12 cooperativas de catadores também foram atingidas pela enchente, maior parte dela ainda não conseguiu voltar a trabalhar. Mas a destruição não começou agora. As chuvas de 2023 danificaram vários telhados dos grupos que seguem sem manutenção até hoje. A prefeitura não investe na infraestrutura da coleta seletiva há anos, e mantem contratos de prestação de serviços que não pagam nem a conta de luz das organizações. Por essa razão todos os galpões estão deteriorados. A enchente veio apenas para piorar tudo. Muros estão prestes a cair, os telhados estão esburacados e as paredes estão prestes a ceder. A maioria das organizações já terminou o processo de limpeza dos galpões, mas a maioria não conseguiu retornar ao trabalho pela precariedade estrutural, alguns galpões foram condenados pela defesa civil, além da falta de equipamentos como prensas, balanças, elevadores de carga, caminhões e escritórios que foram perdidos na enchente.

No dia 10 de julho, a categoria tomou as ruas de Porto Alegre mesmo embaixo de chuva até chegar a Prefeitura municipal, onde exigiam falar diretamente com o Prefeito Sebastião Melo que tenta a reeleição. A principal reivindicação é um contrato de prestação de serviços com pagamento justo. Por meio da medição do Tribunal Regional do Trabalho vem negociando a revisão dos contratos. A mobilização conseguiu a liberação de R$ 800 mil de um fundo municipal para que os 17 grupos de catadores da cidade possam investir nos reparos emergenciais, no entanto, quando dividido por todos o recurso é muito pouco para resolver os problemas.

O trabalho das catadoras e catadores é essencial para o combate as mudanças do clima, pois economiza recursos naturais, água e energia. No entanto, a profissão continua e ser invibilizada.

MNCR

 

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