A informação gerencial é aquela que possui potencial para auxiliar os dirigentes, conselheiros e demais executivos na análise de opções de aperfeiçoamento e nas tomadas de decisões que afetam os seus empreendimentos, proporcionando-lhes maior segurança na escolha de alternativas que visam à sustentabilidade política, à eficiência administrativa e à melhoria dos resultados esperados.
Informações gerenciais estruturadas são um imperativo para a boa gestão de riscos, conformidade e resultado, contribuindo para o aprimoramento da governança corporativa. No segmento de crédito cooperativo, a demanda por esse tipo de informação cresceu nos últimos anos em função do aperfeiçoamento das práticas de gestão, aliada às exigências do Banco Central do Brasil – BACEN (Resolução 3442, de 2007, regulamenta o crédito cooperativo; Circular 3400, de 2008, estabelece o relacionamento entre as Cooperativas Centrais e suas associadas).
As cooperativas de crédito constituem um segmento representativo no direcionamento do crescimento econômico sustentável em vários países. Em alguns deles, como na Alemanha e na Holanda, chegam a responder por até 40% do volume de crédito.
No Brasil, dada sua vocação como canal de distribuição de crédito a baixo custo e com grande agilidade, o segmento tem um alto potencial de crescimento, contribuindo para a eficiência na intermediação financeira e, consequentemente, para o desenvolvimento econômico-financeiro do país. Por meio de um avançado marco regulatório, o Governo tem estimulado o crescimento das cooperativas de crédito, exigindo, em contrapartida, melhor qualificação e maior responsabilidade corporativa na gestão dessas instituições.
As cooperativas de crédito tem respondido as exigências do Governo incrementando os processos de gestão com a utilização mais frequente dos indicadores de desempenho no monitoramento do negócio. Toda informação gerencial relacionada à cooperativa tem potencial para se tornar um indicador de desempenho, mas somente algumas escolhidas de maneira deliberada e criteriosa, à luz dos propósitos da avaliação, se transformarão em indicadores. Indicadores de desempenho são informações gerenciais quantitativas, e até mesmo qualitativas, que resultam da ligação entre a execução com o planejamento estratégico e a tomada de decisão.
Existem diversos indicadores de desempenho voltados à avaliação do desempenho econômico-financeiro das cooperativas de crédito. Alguns desses indicadores podem ser implantados no curto prazo em razão de utilizarem exclusivamente dados extraídos do Plano Contábil do Sistema Financeiro – o COSIF. A seguir são apresentados doze desses indicadores:
INDICADORES DE LIQUIDEZ
1.
Liquidez Geral (LG) - Mede o grau de liquidez mediante confronto entre o ativo circulante e realizável em longo prazo com o passivo circulante e exigível em longo prazo;
2.
Liquidez Imediata (LM) - Mede o grau de liquidez mediante confronto entre os ativos de maior grau de realização em relação aos depósitos.
ESTRUTURA DE CAPITAL
1.
Composição de créditos (CAC) - Indica a relação entre as operações de crédito e as captações. Das operações de crédito estão deduzidos os créditos em liquidação;
2.
Nível de inadimplemento (NID) - Demonstra o grau de risco das operações de crédito, mediante confronto entre as operações de crédito em liquidação e as operações de crédito;
3.
Comprometimento patrimonial (COMP) - Revela os recursos próprios aplicados em ativos de menor conversibilidade.
RENTABILIDADE OPERACIONAL
1.
Geração de receita (GER) - Mede o grau de geração de receitas oriundas do ativo total, mediante confronto entre as receitas totais e os ativos totais;
2.
Rentabilidade financeira (REF) - Demonstra o retorno proporcionado pelas aplicações financeiras, mediante confronto entre as receitas das aplicações financeiras e as aplicações financeiras;
3.
Receitas dos créditos (REC) - Demonstra o retorno proporcionado pelas operações de crédito, mediante confronto entre as receitas de operações de crédito e as operações de crédito.
DESEMPENHO DA CAPTAÇÃO
1.
Custo da captação (CCP) - Indica o custo incorrido nas captações, mediante confronto entre as despesas de captações e as captações totais remuneradas;
2.
Retorno da captação (RCP) - Estabelece a relação entre as despesas de captação e as receitas das operações de crédito.
COMPORTAMENTO DA GESTÃO
1.
Custo da gestão (CGE) - Indica a participação das despesas administrativas nas despesas totais;
2.
Receitas e despesas (RED) – Revela o desequilíbrio financeiro.
Além de medir o desempenho econômico-financeiro, os indicadores podem ser utilizados para medir o desempenho de processos e atividades e para mostrar a distância entre o que foi planejado e o que foi executado em relação a objetivos e metas delineadas no planejamento estratégico. Por exemplo, indicadores podem ser utilizados para medir a eficácia das campanhas de adesão de novos cooperados, ou para medir aspectos que ajudam na detecção de fraudes, ou ainda para medir a eficiência do atendimento aos cooperados.
Técnicas que suportam o trabalho cooperativo são as mais utilizadas para orientar na escolha e na caracterização dos indicadores de desempenho. Em geral, os indicadores são obtidos a partir da análise das atividades de controle previstas em planejamento estratégico, a partir de normas e resoluções publicadas por órgãos reguladores e a partir da literatura especializada sobre análise de benchmark (tipo de análise que permite comparar empreendimentos de mesma natureza).
Métodos adequados possibilitam caracterizar cada indicador de desempenho, descrevendo seu objetivo e detalhando sua fórmula de cálculo, os limiares (limites de aceitação para envio de alertas), as interpretações possíveis, os períodos de apuração, as fontes de origem dos dados, o público a que se destina e os aspectos de segurança associados à divulgação dos resultados.
É importante considerar a adoção de uma plataforma tecnológica sob medida para captar os dados necessários ao cálculo dos indicadores a partir das fontes (bancos de dados, planilhas eletrônicas, arquivos de computador, etc), processá-los e apresentar os resultados na forma de painéis eletrônicos com mostradores que facilitem a visualização e a interpretação (dashboard) a quem dê direito, inclusive pela Internet.
A utilização intensiva e sistemática dos indicadores de desempenho requer algum tipo de capacitação em disciplinas da economia e da administração relacionadas com a análise de cenários e com a avaliação de negócios. Temas como análise histórica de correlação, regressões e projeções são comuns no dia-a-dia dos especialistas que trabalham com indicadores.
O estímulo do Governo ao crescimento das cooperativas de crédito e um marco regulatório consolidado são motivo suficiente para a adoção da prática de monitorar o negócio por meio dos indicadores de desempenho. Não bastasse isso, a utilização cada vez mais frequente de instrumentos nobres da administração e da tecnologia da informação pelas cooperativas, como modelagem de processos, planejamento estratégico e portais colaborativos, incentivam as iniciativas para a elevação do grau de maturidade da gestão. É consenso entre os membros das comunidades que avaliam empreendimentos que a boa gestão de riscos, conformidade e resultado contribui decisivamente para o aprimoramento da governança corporativa e que isso se consegue com iniciativas que consideram a utilização intensiva e sistemática dos indicadores de desempenho.
Sérgio Farias de Albuquerque
Economista e Msc em Gestão do Conhecimento em Tecnologia da Informação