Quero compartilhar contigo a entrevista que fizemos com o nosso maior ícone do Cooperativismo no Brasil e no mundo e, como costumo brincar com ele, a minha “musa inspiradora, o meu porto seguro”, o nosso querido Professor Paul Singer.
Abaixo, segue a matéria que está sendo publicado na próxima edição do Jornal do Cooperado, creio que ninguém melhor que ele para colocar com propriedade o momento de tirania e escravidão enfrentado pelas cooperativas no estado de São Paulo, um dos mais desenvolvidos do País. Se você preferir, assista ao videio completo.
Sinta a emoção de uma nação cooperativista que clama pelo enterro da herança maldita da ditadura em nosso País!
O secretário nacional de Economia Solidária, Paul Singer, compara a exigência do registro obrigatório com os regimes de Hitler e Mussolini
O brasileiro está acostumado a ver nos ministérios pessoas escolhidas por motivos políticos, e não técnicos, de competência. Geralmente, não são médicos na Saúde nem agrônomos na Agricultura. Uma das exceções está na Secretaria Nacional de Economia Solidária, subordinada ao Ministério do Trabalho.
No seu comando não poderia estar ninguém melhor do que o economista Paul Singer – provavelmente o maior especialista no tema que o Brasil já teve. Aos 83 anos, ele está à frente da secretaria desde sua criação, em 2003, numa luta da qual muitos teriam desistido. Suíço de nascimento, ele poderia ter jogado a toalha ainda durante a ditadura militar (quando foi um dos mais importantes intelectuais de oposição ao regime) e ter se livrado da perseguição e repressão num avião de volta a um dos sonhos de consumo dos brasileiros desiludidos. Em vez disso, dedicou a vida ainda mais para combater as injustiças sociais, defender a democracia e apoiar os mais pobres e esquecidos da sociedade.
Autoridade e conhecimento, portanto, não faltam a Singer para falar de um dos temas que mais afligem as cooperativas no momento, a obrigatoriedade do registro a uma entidade privada para poder exercer seu trabalho. No final de outubro, ele estava presente na Assembleia Legislativa de São Paulo para o lançamento da Frente Parlamentar de Economia Solidária. Lá, ele conversou com o Jornal do Cooperado sobre a questão. Veja os principais trechos da entrevista.
A Ocesp (Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo) diz que a cooperativa que não estiver filiada a eles, registrada, é coopergato. As cooperativas de agricultura familiar e de material reciclável, por exemplo, são pessoas que trabalham com garra, determinação, Eles não são coopergatos. Como o senhor vê isso?
Singer – A Ocesp está com vergonha do que ela é. Cooperativa de agronegócio, por exemplo, é cooperativa só no nome. Não tem autogestão. O dono da fazenda é quem manda. É esse tipo de cooperativa que domina a OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). Não são as únicas. Mas são as que dão suporte. É um absurdo.
Como o senhor vê a obrigatoriedade do registro? O governo do Estado de São Paulo fez agora uma licitação para nove meses de merenda escolar. Os produtores das cooperativas de feijão não puderam participar, por causa da falta do registro.
Singer – Posso responder em uma palavra. Registro obrigatório é fascismo. Ninguém perguntou aos italianos se queriam ser representados por Mussolini ou se os alemães queriam ser representados por Hitler. Tinha que ser pela força. Isso não é democracia. É o oposto. Nós queremos que a representação seja livremente escolhida pelos representados. Neste caso, é um absurdo, pois todas as cooperativas no mundo inteiro têm autogestão. Não tem ninguém que manda e não tem ninguém que obedece. Mas eu falei e quero sustentar que há gente muito decente na OCB. Não são todos assim.
O presidente da Ocesp mudou o estatuto e, em vez de o cargo ser decidido em eleição, agora ele é funcionário, com registro em carteira e salário de cerca de R$ 66.000. O que o senhor acha disso?
Singer- Vou dar uma resposta que vai decepcionar, mas é a única que tenho. A primeira cooperativa do mundo que é exemplo para todos nós até hoje, é a de Rochdale, na Inglaterra, onde criaram todos os princípios que até hoje nós aplicamos. A certa altura, ela transformou toda a direção, que era eleita, em funcionários.